*Texto, foto e vídeo por Ana Carolinne, Juliana Santos, Lucivânia Sales e Paula Paulino (estudantes dos ateliês de fotografia, audiovisual e comunicação do CCBJ)

Se contadas apenas as matrículas  nos cursos, cerca de 6 mil alunos frequentaram o Centro Cultural Bom Jardim (CCBJ) em 2018. Um público ainda maior frequenta o local para outras atividades, como shows. Todas essas pessoas que vêm e vão carregam consigo o fruto de uma semente plantada lá no início, quando este lugar era apenas uma idealização, e, mais tarde, uma luta para o tornar existente. O espaço que hoje existe e resiste faz parte da vida de diversas pessoas e das mais variadas idades. Porém, ele, mais conhecido como CCBJ, não estaria vivo sozinho. Quem o faz é quem o tornou vivo ao longo desses 13 anos de história. Aqui essas pessoas vêm em busca de conhecimento, de compartilhar experiências, de aconchego, de refúgio, de apenas passar o tempo, da realização de um sonho, qualificação profissional, ou simplesmente pelo prazer de estar.

 

Você conhecerá agora algumas dessas muitas pessoas que se relacionam com o Centro Cultural  Bom Jardim, cada uma através de suas buscas e experiências com este lugar que também lhes proporcionou tantas boas memórias.

 

Crianças usam diariamente a Biblioteca do CCBJ.

Natanael e Jefferson

 

“Eu gosto muito de brincar no Centro Cultural Bom Jardim…tipo tem teatro. A Biblioteca vem muitas coisas, desenho pra nós brincar, livro pra nós ‘lê’, tem muitas coisas. No NarTe também é legal, nós ‘brinca’ lá também, nós ‘conversa’ sobre as coisas”.  Natanael Santos, 10 anos. 

 

Quando fomos entrevistar o Natanael, ele estava bem tímido para falar com a gente, mas foi só perguntar porque ele vem ao CCBJ que os olhinhos do garoto brilhavam. 

Enquanto nos contava o que ele faz neste espaço, percebemos o carinho enorme que Natanael tem pelas pessoas que compõem este lugar, como os tios e as tias do NarTe e a tia da Biblioteca – é assim que o menino se refere de forma carinhosa a essas pessoas que nos pareceu tão importantes na vida dele. No Centro Cultural Natanael também fez muitas amizades, como seu companheiro de brincadeira e diversão, Jefferson da Silva, 12 anos. 

 

” Eu venho todo dia pra cá ‘pra’ brincar, ‘lê’, pintar, e estudar muito, ‘lê’ muito porque você tá aprendendo ‘pra’ passar de ano. E a biblioteca é importante ‘pra’ pintar, desenhar, tem sorteio, aí ganha chocolate”, diz Jefferson.

 

É de encher os olhos escutar depoimentos de crianças como Natanael e Jefferson que falam com tanto orgulho sobre um lugar que faz parte do seu cotidiano e que – pela fala dessas crianças, tem tanto contribuído para seu bem estar. Quando perguntamos a memória mais marcante para eles, ambos responderam ser a Ilha Digital, uma espécie de sala de informática.

 

Deyse Mara 

 

Uma das pessoas mais próximas aos dois é a educadora Social Deyse Mara que faz parte da equipe do NarTe – Núcleo de Articulação Técnica Especializada. “Trabalho com educação social no setor NarTe, que é um núcleo de assistência técnica especializada. A gente trabalha diretamente com o público frequentador do Centro Cultural, na sua grande maioria crianças e adolescentes. É um espaço para a gente conversar sobre questões de direitos e violação desses direitos”, explica Deyse, 35 anos.

A criançada chega cedo para as atividades do Narte.

Quando nossa equipe pensou sobre entrevistar as crianças que frequentam o Centro Cultural, o primeiro lugar que pensamos em procurar para articular essa possibilidade foi o NarTe. Quando entramos naquela salinha onde fica o setor, já sentimentos a energia boa do ambiente, e não podia ser diferente já que se trata de um espaço de promoção de direitos e garantia deles para a comunidade junto ao CCBJ. Ainda no NarTe percebemos a disposição dos educadores como ponte entre nossa equipe e as crianças que íamos entrevistar. No decorrer do dia em que foi realizado esta entrevista, presenciamos as mais variadas atividades do setor e notamos o quanto o trabalho deles é importante para ocupação deste espaço. O maior público nas atividades do NarTe de fato são crianças, e é de extrema satisfação saber que essas crianças encontram no Centro Cultural este lugar seguro que elas precisam para brincar e se relacionar.

 

Ao conversar com a Deyse, percebemos a importância do Centro Cultural Bom Jardim na vida dessas crianças, que vai para além de uma formação profissional mas também no que se diz acolhimento social proporcionando um lugar seguro para eles vivenciarem Cultura, direito que muitas vezes é negado por não chegar na Periferia.

O CCBJ é palco para artistas como Jorge, o palhaço-poeta.

O palhaço-poeta

 

” Eu sou aluno aqui do Centro Cultural do Bom Jardim e faço parte de dois ateliês: Produção de Eventos, e Circo e Palhaçaria. E… tipo uma das minhas primeiras histórias aqui no CCBJ foi na época em que eu me interessei pela dança, né? Sempre tive um sonho assim de dançar e ‘tals’. Comecei a fazer um curso aqui e… tipo, eu achava muito massa, muito interessante porque esse espaço aqui ele meio que acolhe a comunidade entende”, conta Jorge do Nascimento, de 21 anos.

 

A gente conversou com o Jorge sobre como é para ele estar participando da produção da Mostra das Artes, evento tão esperado pelos frequentadores do Centro Cultural. O jovem artista, que se apresentará no evento por meio do Ateliê de Circo, nos contou o quanto está ansioso. Apesar de achar que vai ser muito corrido, Jorge imagina que o evento será algo muito lindo e sua expectativa é grande. Envolvido com diversas linguagens culturais como Dança, Teatro, Circo e Poesia, ele nos deu o privilégio de compartilhar com vocês uma poesia que ele escreveu recentemente.

 

“Foi numa tarde onde eu estranho passeava, longe das dores, do caos, da mágoa. Sentia o meu corpo preso numa estátua enquanto minha alma louca passeava. E a vontade de sair da matéria em vida, a transfiguração com que o espírito procurava causar o sentir, a alegria, a raiva, a fúria, explicar o que o corpo não podia ainda”

 

Patrícia veio do design de moda e está apaixonada pela área cultural.

 

 

Duas mulheres e suas histórias no CCBJ

“Eu gosto muito de trabalhar aqui, o setor é muito bom porque eu não conhecia essa parte da cultura, aí com os poucos anos que eu fui trabalhando fui entendendo as artes, as coisas, e eu gosto muito. Por isso eu digo, a cada dia eu vou aprendendo com os novos alunos que vem pra cá”, diz com simpatia Aíla Braga, 57 anos,  auxiliar de serviços gerais. 

 

“Antes eu não conhecia o território, não conhecia o Centro Cultural, não tinha essa ligação direta de como era vivenciar isso, né? E para mim foi uma surpresa ser  selecionada porque a minha experiência mesmo era mais ligada à indústria e à confecção. Só que aí depois de um bom tempo trabalhando com moda, confecção e tudo, eu fui fazer mestrado na área de arte e cultura e foi aí que eu comecei a me ligar mais pra essa área de cultura”, nos conta Patrícia Costa, 33 anos,  assistente pedagógica.

Aíla trabalha no CCBJ desde sua fundação, em 2006.

Mesmo trabalhando em áreas diferentes dentro do Centro Cultural, Aíla e Patrícia têm uma relação bem parecida com o local. As duas mulheres encontraram no CCBJ uma oportunidade no mercado de trabalho e, para além disso, tiveram a oportunidade de vivenciar novos aprendizados na área de Cultura e Arte. Aíla está trabalhando no Centro Cultural Bom Jardim desde a construção do local,em 2006.  Já Patrícia está apenas há seis meses. É uma diferença muito grande de tempo de vivência no Centro Cultural, mas percebemos nelas o carinho e a gratidão pela oportunidade de aprender todos os dias com as pessoas que fazem o CCBJ. É com ternura no olhar que elas conversaram com nossa equipe sobre como é fazer parte dessa história e como lhes agregou experiências significativas, assim como todos os outros personagens que apresentamos no decorrer do texto e nesse vídeo. 

 

 Quem faz o CCBJ? Ele é soma das  marcas de quem passou, está ou chegará para  compartilhar conhecimentos e afetos.Se a carapuça serviu… quem faz o CCBJ são vocês.

 

*Sob supervisão de Jack de Carvalho.