Caros e caras representantes do Fórum de Cultura do Grande Bom Jardim,

Li a carta de vocês. Carta instigante para avançarmos no debate e na construção social em torno do Centro Cultural Bom Jardim. Em primeiro lugar quero dizer que não sou homem de conchavos. Talvez, alguns de vocês não me conheçam, mas parto do princípio que cultura é um saber/fazer comum, portanto solidário e comunitário, fruto de construções coletivas, de memórias e imaginações coletivas, de tempos e espaços coletivos. Por isso penso e procuro atuar na política pública como uma conjugação no plural, por acreditar que política pública não se conjuga na primeira pessoa.

Não sou colonizador. Sou um menino do sertão que veio morar em Fortaleza em 1984 na casa de minha tia na Aerolândia. Não faço parte dos sobrenomes que batizam as avenidas de nossa cidade. Já morei em muitas casas: Aerolândia, Bela Vista, Montese, Benfica e há 17 anos moro na Maraponga. Mesmo nos 8 anos em que passei fora da Cidade (boa parte no MinC em Brasília e no CERLALC-UNESCO em Bogotá), sempre estive na minha casa na Maraponga. Por que estou falando disso? Porque também sou da periferia e em minha militância são essas as cidades que me interessam, por acreditar que o direito à cidade é o direito de reinventá-la. E essa reinvenção só acontece, acontecerá a partir das periferias.

As críticas escritas na Carta são construtivas, mas cometem um rol de injustiças, talvez, por falta de informação, conhecimento ou comunicação. Elas não conseguem perceber, por exemplo, os esforços empreendidos pela Secult e IDM para reabertura do Centro e de uma programação envolvente com a comunidade, com os grupos e artistas do Grande Bom Jardim em conexão com artistas de outras regiões da cidade. Fruto do empenho e dedicação da Luisa Cela e Xauí na condução do processo, além do próprio empenho do Paulo Linhares, presidente do IDM em todo esse processo. Como referências podemos lembrar do Trajetos EnCena, o Cidade Hip-Hop, Bonja Roots, Bomja Rocks, o Festival das Quebradas, o Projeto Praça das Artes, Festival Bom de Arte, Festival Bom Demais, a Semana Estadual do Hip Hop e Dia da Consciência Negra, dentre outras ações.

Claro que a Secult junto com o IDM devem fazer suas autocríticas e aprimorar o processo democrático de participação e gestão compartilhada. Avaliar onde precisa melhorar e avançar nesse exercício, considerando que as críticas e autocríticas possíveis são recíprocas e que o processo de vias duplas/ diversas é rico e necessário. Imagino que a afirmação escrita na carta “de segregação travestida de diálogo” e “centro sem colonizadores” podem ser motes para iniciar o debate para desmistificar essa imagem e avançarmos no processo construtivo e democrático em torno do programa e gestão do CCBJ.

No mais, o debate continua, teremos uma reunião com o Fórum no dia 16/02 e daremos sequência na gestão compartilhada composta de debates e embates, consensos e divergências, tensões e harmonias, partes do exercício democrático sempre aprendiz e recíproco. Ontem mesmo passamos a noite reunida com a comunidade de origem rural do Belmonte no Crato, conversando com avós, pais e filhos, professores e alunos da SOLIBEL que farão a gestão compartilhada da Vila da Música, que será inaugurada como o primeiro equipamento do Estado no interior do Ceará.

Grato pela atenção.
Abraços,
Fabiano